3.05.2008

Quando o "i" se lê "e"....

Vi aqui um desabafo a mais uma situação do tipo - diz-se Filipa ou Felipa?

A mim, na escola, sempre me ensinaram que, quando a palavra tem dois is, que o primeiro se "fecha" e se lê como "e"...e que por isso o meu nome se deveria ler Felipa...
E também que para se ler Filipa, teria que ser ter um acento, por se tornar uma palavra exdrúxula...

De qualquer maneira, andei a investigar e descobri aqui, no Ciberdúvidas, uma resposta sobre esta questão:

Nestes casos (...Cristina ou Crestina), pode dizer-se que de facto é possível fazer a redução do(s) i(i) átono(s); poderá ter /decedimos/, /menistro/, /femenino/, /Crestina/ ou /Felipa/.
Este é um fenómeno de dissimilação (ou seja, de diferenciação), que se dá devido à proximidade de dois (ou mais) sons muito semelhantes entre si, facto que, por vezes, dificulta a articulação e produção dessas palavras.
No dialecto centro-meridional (onde se inclui o dialecto lisboeta) é muito frequente este fenómeno acontecer. Já nos dialectos transmontanos e alto-minhotos é mais raro. Mas para responder à pergunta da pronúncia, posso dizer que, em rigor, deve dizer /feminino/, /ministro/, /Cristina/,/decidimos/ etc.
Mas ninguém a leva presa se não o fizer...

e mais um pouco sobre a dissimilação aqui:

Por dissimilação entende-se «qualquer processo [...] em que um segmento fonético perde um ou mais traços fonéticos que tinha em comum com um segmento vizinho, diferenciando-se deste» (in Dicionário de Termos Linguísticos, vol. I, Maria Helena Mira Mateus et alii).
Pode obter mais informações sobre este assunto no dicionário supramencionado, na Gramática da Língua Portuguesa (Maria Helena Mira Mateus et alii, também) ou no manual da Universidade Aberta, Fonética, Fonologia e Morfologia do Português (Maria Helena Mira Mateus).
Quanto a exemplos, e já que fala na variante do Norte, temos os casos de ‘bau’ por ‘vou’, de ‘mauros’ por ‘mouros’. Para a ajudar a perceber melhor, apresento-lhe o que se chama o ‘Triângulo Acústico das Vogais’ (que encontrará, em triângulo ou em quadro, nas referências que lhe dei) e que corresponde à representação esquemática das vogais fonéticas (orais) do Português Europeu.
A negrito e sublinhado está a vogal ortográfica à qual corresponde o som em itálico. Não recuadas Recuadas Altas i (tino) e átono/fechado (telefone) u (muro) Médias e (medo) a átono/fechado (maçã) o (ovo) Baixas e aberto (vela) a aberto (mala) o aberto (mola) Não arredondadas Arredondadas.
Ora, a dissimilação acontece cada vez que um segmento muda um traço (deixa de ser recuada para ser não recuada, deixa de ser alta e passa a ser média, etc) de modo a tornar-se mais distinta de outra que lhe está próxima.
Tal não acontece, porém, em Lisboa-Lesboa. Se o objectivo do i (de Lis-) é afastar-se do o (de –boa), não vai transformar-se em algo ainda mais próximo dele (e átono, em Les-), como acontece em ‘femenino’ ou em ‘menistro’ onde se procura distanciar dois ‘is’. O que é possível aceitar é a dissimilação do i de s (em Lis-), uma vez que este último som, como o i, é palatal (produzido com aproximação da língua ao palato), provocando a alteração de i em e átono. Isto não acontece na palavra ‘dissimilação’ (que é sempre, mesmo em Lisboa, ‘dissimilação’) ou na palavra ‘diferente’ (o som que está ao lado do i em Lisboa não é o mesmo que está ao lado do i em ‘dissimilação’ ou ‘diferente’). Assim, há que diferenciar o que acontece em ‘dissimilação’ (onde não há dissimilação) daquilo que acontece em ‘dstraído’ ou ‘Lsboa’ (onde há dissimilação do i de s) e ainda daquilo que acontece em ‘femenino’ (onde há dissimilação dos dois is).
Gostava ainda de chamar a atenção para um aspecto: não há formas correctas de pronunciar seja o que for.
No Português de Portugal, há um padrão (aquele que é falado na região de Lisboa) e que é de toda a utilidade para quem ensina, por exemplo.
Assim para um falante de Lisboa ‘feminino’ é ‘femenino’ e ‘ministro’ é ‘menistro’. Para um falante do Norte ‘feminino’ é ‘feminino’ e ‘ministro’ é ‘ministro’.
Quem diz bem? Quem diz melhor? Não há resposta.
O máximo que se pode dizer é que um falante do Norte pronuncia estas palavras mais de acordo com a ortografia e nada mais.

Esclarecidos...?
;-)

1 comentário:

Filipa disse...

Pois, por isso é que aqui no Norte eu sou Filipa!!! Com "i"!