By bagaço amarelo in "Não compreendo as mulheres"
Os abraços não são todos iguais. Há abraços equilibrados e desequilibrados. Nos abraços equilibrados ambas as pessoas se abraçam uma à outra, nos abraços desequilibrados há uma pessoa que abraça e outra que é abraçada. Todos esses abraços são um bem precioso, porque apesar de diferentes há uma coisa que os une: o impulso. Os abraços nunca nascem de um pensamento ou de um costume social, como por exemplo alguns beijos. Nascem de um impulso, de uma vontade. Gosto de abraços por isso e pelo calor que lhes é inerente.
Acho que divido todas as pessoas que já conheci no mundo por dois grandes grupos: o grupo das pessoas que já abracei e o grupo das pessoas que nunca abracei e, mais do que isso, acho que um Amor se torna impossível quando nele já não há abraços. E repito: mesmo que existam beijos.
O abraço é o ninho do Amor. É um agasalho quando nos sentimos despidos da vida e dos outros e, como tal, um bem inegociável. Nunca ninguém pagou para ter um abraço, ainda que possa, por exemplo, ter pagado para ter sexo. O sexo pode ser fingido, um abraço não. E repito: um abraço não.
Um aeroporto é um local de muitos abraços porque é também um local de reencontros. Acho que é por isso que gosto de aeroportos. Mas as estações de comboio e os terminais de autocarros também o são. Hoje fiz uma viagem de comboio em frente a uma mulher que se abraçava a si mesma. Quando o comboio chegou à estação de destino percebi que esse autoabraço não era mais do que a ânsia de um outro abraço: o do namorado dela para quem correu mal as portas abriram. Ficaram ali abraçados como dois náufragos à deriva num mar de gente só. Alguns olhavam-nos de soslaio, outros talvez com a nostalgia de abraços que nunca mais voltaram a sê-lo, mas eles não ligavam. É que um abraço também tem esse poder: o de isolar duas pessoas do resto mundo.
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