10.22.2010

A ler...

 

A Obesidade Mental - Andrew Oitke

Por João César das Neves - 26 de Fev 2010

 

O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que

revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.

Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito

em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade

moderna.

«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos

do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.

Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e

conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»

Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos

que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de

carbono.

As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos

tacanhos, condenações precipitadas.

Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.

Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e

comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e

realizadores de cinema.

Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e

romances são os donuts da imaginação.»

O problema central está na família e na escola.

«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se

comerem apenas doces e chocolate.

Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta

mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e

telenovelas.

Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance,

violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma

vida saudável e equilibrada.»

Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os

Abutres", afirma:

«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de

reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações

humanas.

A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e

manipular.»

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade

fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.

«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»

Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.

«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.

Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi

Kennedy.

Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que

é que ela serve.

Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam

porquê.

Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um

cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.

«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes

realizações do espírito humano estejam em decadência.

A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura

banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.

Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.

Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da

civilização, como tantos apregoam.

É só uma questão de obesidade.

O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.

O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.

Precisa sobretudo de dieta mental.»



powered by iPhone ;-)

Sem comentários: