10.12.2009

Subscrevo...

Carta aberta aos responsáveis do Pingo Doce

Exmos. Senhores,

Como vosso fiel consumidor e um dos detentores da marca (compreendem que a marca é nossa e não vossa certo?), não posso deixar de emitir a minha opinião sobre a mais recente campanha que lançaram.

Para o fazer tenho antes que enquadrar a situação.

Confesso que o meu descontentamento é da vossa inteira responsabilidade – vocês, Pingo Doce, mimaram-nos demais ao longo dos tempos. Senão vejamos:

Quando os outros hipermercados nos encharcavam com anúncios chatos e que já ninguém se lembra, vocês davam-nos aquelas receitas maravilhosas que faziam crescer água na boca a toda a gente. Anúncios bem filmados e com aquela voz off que nos hipnotizava em frente à TV. Até eu, que nunca fiz mais do que um simples arroz de salsichas, tentava decorar aquelas iguarias.
O Pingo Doce não nos vendia nada, conversava connosco (e é isso que os amigos fazem não é?).

Depois saia de casa, a pé, e aqui ao lado encontrava um Pingo Doce, nem muito pequeno nem muito grande, maneirinho, arrumadinho, gente simpática.

Quando aparece a crise (julgo que foi numa 2ºf) nós, os pingo docenses, compreendemos - afinal os amigos servem para quê? - que era inevitável adoptar uma estratégia que demonstrasse que apesar da qualidade Pingo Doce o factor preço era uma preocupação real da marca: “O Pingo Doce é uma marca melhor que as outras e, pelo menos, tão barata como as outras” era o mote.

O slogan “sabem bem pagar tão pouco” passa então a fazer parte de um logótipo renovado.

Em termos de estratégia de produto o Pingo Doce passa a ter cada vez mais produtos de marca própria, alavancados no excelente valor da mesma, e os consumidores aceitam e até agradecem.

A relação forte que une os consumidores e a marca, neste caso, baseia-se na confiança e, caso raro em marketing, na forma como o Pingo Doce trata os seus clientes como se eles fossem pessoas inteligentes.

Ora agora, o meu Pingo Doce (será a crise dos 40?) decide lançar uma campanha popularucha, daquelas assim com imagens giras e uma música com um refrão giro e as pessoas a rirem-se e a fazerem um gesto giro para os consumidores passarem por lá. Giro.

O início do anúncio podia ser do Modelo, o amor a Portugal e aos seus símbolos (ainda me vêem as lágrimas aos olhos quando relembro a imagem do velhinho com a bandeira portuguesa por trás), e o resto do anúncio podia ser, bem podia ser de um qualquer concorrente ou de qualquer outra coisa gira sei lá.

Estava boquiaberto, mas depois de ler o responsável da agência brasileira “Duda Portugal” que fez a campanha a dizer “Tendo em conta os estudos de mercado elaborados, esta campanha irá atingir 70% dos consumidores que fazem compras no retalho” percebi: O homem não fazia puto de ideia daquilo que tinha em mãos.

Fez um anúncio, giro, de um retalho para chegar a 70% dos consumidores.

Senhores do Pingo Doce e senhores da Duda, para concluir: Parem de maltratar a nossa marca ok? É que directores de comunicação e directores de agências vão e vêm mas nós vamos ter que fazer compras o resto da vida e eu ainda gosto muito de passar por aí.

Obrigado.

Tiago Rainho Castro
Um Pingo Docense

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